top of page

12. Etapas do recalque



A noção de recalque (ou recalcamento) pode ser compreendida em um sentido mais restrito e em um sentido mais amplo. Em um sentido mais restrito, o recalque (propriamente dito) é a operação por meio da qual um representante ideativo ligado a uma pulsão é conduzido ao inconsciente ou lá mantido, com o propósito de evitar o desprazer que seria ocasionado pela presença desse representante no sistema pré-consciente/consciente. Já em um sentido mais amplo, o recalque engloba três momentos, sendo o recalque propriamente dito o segundo deles.

 

Antes do recalque propriamente dito é necessário um recalque originário (ou primário) que corresponde ao tempo em que é estruturado um núcleo de representações ideativas capaz de exercer atração sobre outras. Enquanto o recalque propriamente dito acontece depois da divisão da mente em dois sistemas, que são o sistema inconsciente e o sistema pré-consciente/consciente, o recalque originário é responsável por tal divisão. A terceira e última fase do recalque, que é o retorno do recalcado, evidencia as limitações do recalque propriamente dito, pois os representantes ideativos retidos no inconsciente não são anulados e de modo disfarçado conseguem burlar o recalque, aparecendo em formações como sonhos, chistes, atos falhos e sintomas.

 

Foi da análise das formações do inconsciente que Freud elaborou a noção de recalque, ou seja, ele procurou apreender o processo de recalque através da observação de seus efeitos. No “Caso Schreber”, após descrever de um jeito um pouco diferente as três etapas do recalque, Freud acrescentou que a primeira possui uma multiplicidade de pontos de fixação, a segunda possui uma multiplicidade de mecanismos de contenção e a terceira possui uma multiplicidade de dispositivos de irrupção.

 

→ Na prática da psicoterapia, essa teorização sobre as etapas do recalque serve como instrução de respeito ao ritmo de cada paciente para compreender e confrontar seus sintomas. É uma teorização que sensibiliza o clínico a pensar o quanto a montagem de um sintoma foge ao controle do paciente, que existe uma história e uma lógica por trás de um sintoma, e que ninguém terá acesso direto a conteúdos recalcados. Um dos objetivos dessa complexa teorização é mostrar que um sintoma psicológico não é uma coisa simples.        


..............................


S: O recalque é um fenômeno observável?

F: Ele é inferido a partir de seus efeitos.

Posts recentes
bottom of page